fluxos e rastros da condição ‘diaspótica’

A questão migratória não pode mais ser apreendida somente em termos de ausência e rupturas. Antigas diásporas e novos imigrantes dispõem, hoje, de sofisticadas tecnologias de informação e comunicação (TICs) que não apenas permitem a manutenção e consolidação dos laços identitários e afetivos para com a sociedade e cultura de origem, mas viabilizam e incentivam a construção de novos quadros comunitários (de ordem étnica, cultural, nacional, linguística e/ou confissional), tanto no plano local como transnacional.

É verdade que a principal característica de nossa época é a sua estruturação em torno e em função dos meios de comunicação. A mesma sociedade contemporânea é marcada, por outro lado, pelo imperativo organizador de mobilidade humana e instantaneidade comunicacional. Fluxos e rastros (subjetivos e midiáticos / materiais e humanos) constituem, hoje, um nível imprescindível para a restituição dos mapas cognitivos do mundo no qual evoluímos e atuamos.

O próprio processo de globalização, que vem reconfigurando a morfologia social e ecologia cognitiva do planeta, é profundamente tributário de seu substrato info-temporal e tecno-organizacional. Dentre as suas consequências mais evidentes, destaca-se o princípio de encolhimento simbólico do globo, decorrente da generalização e acessibilidade dos meios de comunicação e transporte.

Fica evidente, portanto, a organicidade da relação entre migrações e tecnologias da comunicação em nossa época. A conjugação das migrações transnacionais, diásporas e TICs aponta para o conceito emergente de ‘Diaspotics’: A formulação de novas configurações diaspóricas necessariamente apoiadas nas TICs e/ou o conjunto de estratégias de reapropriação dessas TICs pelas diásporas para fins de expressão cultural e identitária, organização social e mobilização política.

O fato é que o fenômeno migratório não pode mais ser dissociado das TICs que o propiciam e condicionam. Antes mesmo de efetivar o projeto migratório – seja ele administrativamente amparado ou ‘irregular’, o candidato inicia a sua empreitada subjetiva e espaciotemporal a partir e através do ambiente tecnomidiático que o cerca.

São as TICs que ‘transportam’ o migrante, material e simbolicamente, rumo a seu destino real e imaginário. Mas são essas mesmas TICs que vão mantê-lo ligado à terra e à cultura de origem. Do mesmo modo que a migração se inicia nas TICs, é nelas que o migrante vai fincar suas raízes – doravante transterritoriais, e é através dessas mesmas TICs que ele vai fantasiar e desejar o passado, na mesma proporção que fantasiava e desejava o futuro.

DIASPOTICS é um grupo de pesquisa vinculado à Escola de Comunicação da UFRJ (ECO) e ao Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidade e Ecologia Social da UFRJ (EICOS). Coordenado pelo Prof. Dr. Mohammed ElHajji, tem uma proposta de apreensão, análise e compreensão do fenômeno migratório e diaspórico a partir dos fluxos e rastros subjetivos produzidos pelo imigrante e as comunidades diaspóricas, mediados pelas TICs. O conjunto de transformações nas formas de representação do real, pelas quais os sujeitos sociais se movem dentro de seus percursos subjetivos e materiais constitutivos de sua condição transnacional e multiterritorial. 

Onde estamos: Universidade Federal do Rio de Janeiro – Campus Praia Vermelha

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